Empreendedor digital: O que eu gostaria de saber quando comecei
Sou um empreendedor digital mas não sou desenvolvedor, sou um cara que tinha ideias, sabia vender, administrar mas não fazia a menor ideia de como é programar, ah, desenvolver, desculpem-me.
Minha experiência no modelo de negócios tradicional, uma indústria de alimentos mais especificamente, me ajuda muito a trazer uma visão diferente e a gerir melhor a nossa startup como uma empresa.
Neste período de empreendedor digital aprendi que me faltava muito (e sempre faltará algo) para ser completo e resolvi compartilhar seis dicas com você, empreendedor digital, que como eu, não é desenvolvedor.
1. Assuma que você não domina tecnologia, não é vergonha.
Um dos maiores mitos que foram criados na nossa educação é que precisamos ser os melhores em tudo, que quem não domina tudo é um fracasso. Uma grande mentira. Quer ver por que? Eu sempre fui terrível em jogar futebol, me esforçava ao máximo e qual era o resultado? Eu era infeliz pelo meu mau desempenho e deixava o time inteiro infeliz pela mesma razão. No dia em que assumi isto, busquei um esporte que eu fazia bem, deixei meus colegas felizes e eu também.
Será que a prática me faria um jogador perfeito? Creio que não, da mesma maneira, se você não domina tecnologia mas é bom noutras atividades, assuma que não sabe, este é o primeiro passo para você ter um melhor desempenho como empreendedor digital, afinal só podemos agir se temos conhecimento de algo, e assumir nossa situação nos dá o controle e possibilidade de mudar.
2. Aprenda tudo que puder
O segundo passo é aprender como a tecnologia funciona, o que são linguagens de programação, lógica, linhas de código, redes sociais, armazenagem, servidores, segurança, etc… os princípios básicos.
Depois que comecei a entender estes princípios básicos melhorou o relacionamento entre a equipe, passamos a falar a mesma língua, o desenvolvimento do produto ficou mais rápido, eu não sugeria absurdos e também ficou mais difícil me enrolar dizendo que o que eu falava era impossível.
Outro benefício foi a redução de custos com soluções que nem sempre são responsabilidade do desenvolvedor mas administrativas e que ao entender de tecnologia me permitiram tomar melhores decisões.
O aprendizado demanda esforço, claro, mas descobri que a internet tem solução para quase tudo, claro que não sempre fácil e nem está na nossa cara, exige garimpar. Aprendi participando de eventos, seminários, lendo blogs, usando muito o twitter para seguir as pessoas da área, blogueiros, e empresas da área de tecnologia, claro, quase tudo em inglês, mas, aí seria redundante dizer que se você não sabe inglês está perdido nesta área.
3. Mas não precisa ser especialista
Você precisa saber tanto de tecnologia quanto eu sei de futebol, ou seja, sei o que é um impedimento, gol, as posições dos jogadores, falta, etc… o suficiente para não falar M… quando estiver assistindo a um jogo, ou para conseguir jogar uma peladinha na praia.
Se você se interessou em empreender em tecnologia, muito facilmente você se apaixonará pela área e poderá acabar se aprofundando mais do que o necessário na área. Não que isto seja algo ruim em si, afinal, você pode sim ter o dom de desenvolver (o dom do futebol que eu não tenho), mas aí você deixará de ser um empreendedor não developer e este post já não servirá mais para você, concorda?
Aprofundar-se demais fará com que você deixe de contribuir com o que você tem de melhorpara a startup. Saiba o suficiente para poder conversar de igual para igual com os seus pares, para não ser “vendido” em nenhum momento, inclusive para sentir-se confiante e feliz quanto ao tema.
4 . Tenha sócio(s) que domine(m) tecnologia
Terceirizar só (e olhe lá) quando estiver na fase do MVP — Mínimum Viable Product. Começamos nosso negócio terceirizando tudo, depois fomos contratamos free-lancers, ou freelas. Nos ajudaram a seu tempo, mas com mais inconvenientes do que benefícios.
Em nossa startup inicialmente ninguém era desenvolvedor, logo, qualquer coisa que os fornecedores dissessem tínhamos que acreditar, preços, prazos, tecnologia, linguagem, bugs, possibilidades, ou seja, estávamos literalmente sem controle nenhum sobre nosso produto, e em uma startup a tecnologia é core business. Como ser um empreendedor digital deste jeito?
Além disto, e não por culpa dos nossos fornecedores/parceiros, obviamente nunca éramos prioridade para ninguém, nem para as empresas fornecedoras, muito menos para os freelas que tinham outras atividades e precisavam viver delas. E, não menos importante, sempre acaba sendo mais caro. Uma empresa tem todos os custos operacionais, trabalhistas, tributários e quem paga? Obviamente o cliente.
Logo, repito, a única exceção possível é se você quer fazer um MVP, mas mesmo assim, minha recomendação é que você tenha um sócio que domine a tecnologia, isto é o coração de seu negócio, e o preço das cotas compartilhadas será muito mais barato e imensamente mais recompensador do que querer fazer sem isto.
Eu jamais farei isto novamente, hoje tenho sócio na área, e nossa empresa está muito melhor, mais rápida e eficiente.
5. Crie um time com multi-competências complementares
Normalmente quando se pensa em começar uma empresa/sociedade, buscamos afinidades, confiança, amizade, enfim, acreditamos mais em quem conhecemos, ou numa ideia comum. Não são razões erradas para escolher seus companheiros de caminhada, mas são insuficientes.
Uma ideia em comum é ponto importante, mas mais importante do que isto, é que você está construindo uma empresa, e isto é muito mais do que uma reunião de amigos, tem responsabilidades e consequências.
Meu aprendizado nesta área é que devemos sempre montar um time com competências diferentes. Os valores acima são parte importante e devem fazer parte, mas mais do que isto, não tenha competências duplicadas, pense no seu negócio e no que ele precisa para rodar, administração, finanças, vendas, marketing, produto, desenvolvimento, tecnologia, etc… e a partir disto una-se à competências complementares.
Lembra do meu exemplo inicial? Imagine um time em que ninguém é goleiro, todos querem fazer gol, não tem como dar certo.
Minha experiência mostrou-se péssima ao não prestar atenção nisto. Tive que resolver isto depois, e aí é mais caro, demorado e complicado. Evite isto e antes de formar o time pense na complementariedade das competências.
6. Faça bem o que sabe fazer bem feito
Agora vem o melhor, se você, como eu, não joga futebol, faça com prazer e muito bem feito o esporte que você sabe fazer. Sua empresa precisa de você no que você é bom. Treine e aperfeiçoe-se nas suas competências, seja o melhor. Se cada um der o melhor de si, o time será vencedor, e humildemente valorize o melhor dos seus colegas de time. You will rock, for sure.
Finalmente, assim como a maioria de nós, o entusiasmo e a paixão por empreender nos fazem ficar cegos para algumas situações e depois acabamos pagando mais caro por isto. Compartilhei um pouco sobre meus erros, mas os erros já valem um próximo post, até lá apreciarei ver os comentários e aprendizados que vocês tiveram, vamos aprender juntos?
Autor: Guido Jackson, CEO da Pip.