Porque não investimos em empresas sem faturamento
Uma coisa que me incomoda no dia a dia do venture capital é não conseguir explicar para os empreendedores que buscam investimento da BZPlan o porquê das nossas decisões. O fato é que tudo passa por um filtro chamado tese de investimento, e cada gestora de fundos possui a sua própria tese, com os parâmetros mais variados. Hoje, inicio uma série de posts sobre os critérios que norteiam a nossa tese.
Para começar, escolhi faturamento.
Não investimos mais em empresas sem faturamento porque…
1) Ficou mais barato e rápido começar a faturar.
Prototipar qualquer produto, seja de software ou de hardware, é muito mais barato hoje que há alguns anos. Você consegue contratar programadores da Índia, fazer permutas de serviços, negociar prazos de pagamento, compartilhar receita, aprender a usar ferramentas “do-it-yourself”, ou até fazer tudo sozinho se você já tiver o conhecimento necessário. Além disso, muitos módulos das soluções atuais são de terceiros, como meios de pagamento, servidores, ferramentas de suporte ao cliente e por aí vai.
2) Os chamados “playbooks” estão todos disponíveis.
Assim como a Resultados Digitais desenvolveu seu manual do marketing digital e divulga abertamente nos seus canais, várias outras empresas compartilham seus aprendizados de execução nas mais diversas áreas. Hoje, para quase todo desafio de uma empresa nascente, existe uma espécie de manual, um “playbook” de melhores práticas, casos de sucesso e fracasso, ferramentas e passo a passo. Seja de vendas (Exact Sales e Meetime), customer success (Gainsight), gestão financeira (ContaAzul) ou até mesmo de validação de modelos de negócios (Leanstack), o empreendedor não tem mais desculpa de não ter acesso à informação.
3) Um gestor de venture capital ajuda pouco na conquista do primeiro cliente.
O método mais eficiente que encontramos para chegar ao “product market fit” e começar a faturar é o famoso 3S’s: suor, saliva e sola de sapato. Quanto mais clientes o empreendedor falar, quanto mais estudar o mercado-alvo, mais chances ele tem de descobrir para quem o seu produto ou serviço tem valor e como vendê-lo. E nisso o investidor vai ajudar muito pouco. É dever do empreendedor abraçar essa missão. (Em que e como os gestores de venture capital ajudam fica para outro post.)
4) Já existe muita ajuda para esse estágio.
A quantidade de investidores-anjos, aceleradoras, programas de fomento, eventos, incubadoras e instituições de ensino que ajudam empreendedores a validar seus modelos de negócios tem aumentado de forma notável no Brasil. Existe muita gente atrás de um bom projeto e uma boa equipe para investir tempo e dinheiro nesse desafio.
5) Você pode (e às vezes deve) vender antes de ter o produto pronto.
Não existe estratégia mais inteligente para financiar o desenvolvimento de um produto que fazer o primeiro cliente pagar por isso. E, eu confesso, isso chama muito a atenção de um gestor de venture capital: a mitigação de risco de mercado acontece antes mesmo do produto estar pronto. Genial!
Autor: Rodrigo Ventura