Participar de programas e eventos, ter um propósito claro e não desistir se a primeira ideia falhar são alguns aprendizados de quem criou empresas que geram impacto social
O empreendedorismo social está em alta – especialmente entre os jovens. Segundo pesquisa da consultoria Deloitte, 73% dos millennials (nascidos entre 1982 e 1995) estão preocupados em trabalhar com o propósito de gerar impacto social. Isso faz com que, a cada ano, surjam novos negócios voltados a inovação social e fundos de investimento atuando no país para impulsionar projetos que resolvam problemas em áreas como educação, saúde, cidadania e questões de empregabilidade.
A empreendedora catarinense Fabíola Rocha Borba ilustra bem este exemplo. Envolvida desde pequena com a comunidade de surdos em função da deficiência auditiva do pai, ela conheceu de perto todas as limitações que este público enfrentava no dia a dia. Ao participar de um evento em Florianópolis para desenvolvimento de negócios inovadores, ela deu início ao projeto de uma startup que produz e oferece cursos online para surdos. “Foi a forma de alinhar propósito pessoal com profissional”, diz Fabíola, cofundadora da startup Signa, que conta com mil alunos cadastrados na plataforma.
O exemplo familiar também fez outro jovem empreendedor, o paulista Mórris Litvak, a entrar a fundo na experiência de negócios sociais: ao lembrar das dificuldades que sua avó paterna teve após se aposentar aos 82 anos, ele iniciou em 2014 um projeto chamado Conectando Gerações, com o intuito de conectar via internet jovens com idosos que moravam em asilos. Hoje ele é fundador da Maturijobs, empresa que se tornou referência para quem tem mais de 50 anos e procura uma oportunidade de trabalho.
Dentre as organizações que apóiam projetos sociais está a ONG Social Good Brasil que desde 2012 já auxiliou 530 empreendedores de várias partes do país a criar modelos de negócio que impactaram positivamente cerca de 135 mil pessoas. Para quem quer saber como fazer para iniciar um projeto social inovador, na próxima semana, nos dias 27 e 28 de outubro, Florianópolis recebe a sexta edição do Festival Social Good Brasil, encontro que ajuda novos empreendedores a transformar seus propósitos de vida em negócios sociais inovadores.
Se você sonha em desenvolver uma ideia com impacto social, os empreendedores dão algumas dicas para começar desde já:
1. A primeira ideia não deu certo? Não desista
“O Conectando Gerações, projeto que eu iniciei em 2014 durante o Social Good Brasil Lab, não vingou como negócio mas foi através dele que eu entrei de cabeça neste mundo e abracei de vez a causa do envelhecimento e longevidade. Ao fazer pesquisas vi que a falta de oportunidades de trabalho para pessoas acima de 50 anos era grande e cada vez mais frequente. Foi aí, no início de 2015, que comecei a MaturiJobs”, conta Mórris. Atualmente, mais de 56 mil pessoas acima de 50 anos que procuram uma oportunidade de trabalho estão cadastrados na plataforma.
2. Tenha claro qual o impacto você quer gerar com seu projeto social
“Meu objetivo é mudar a cultura no Brasil que valoriza muito pouco os profissionais mais maduros no mercado de trabalho e abre poucas oportunidades para as pessoas acima de 50 anos. Com o envelhecimento da população, é urgente revermos essa cultura”, ressalta Mórris.
Para Fabíola, o desafio é fazer com que os surdos tenham as mesmas oportunidades que qualquer outra pessoa no século 21: “O surdo hoje não tem oportunidade pela falta de conteúdos, informações e uma comunicação adequada à sua cultura e língua. A partir do momento que ele tem acesso a educação, suas chances de conseguir um emprego digno ou até mesmo gerar sua própria renda aumentam e isso afeta no seu sentimento de pertencimento à sociedade, seu pensamento crítico”.
3. Participe de eventos e programas de desenvolvimento
O impulso que Fabíola e seu sócio precisavam para iniciar a plataforma de cursos para surdos foi o primeiro lugar na competição Startup Weekend Education, que aconteceu em Florianópolis em 2015. A partir das ideias geradas no evento, a equipe participou do Social Good Brasil e, nos últimos anos, seguiram em outros programas de desenvolvimento dentro e fora do Brasil, como Startup Chile, e hoje já estão em busca de investimento para crescer em escala.
Mórris destaca a importância destes eventos: “programas e festivais trazem muita inspiração para novas ideias ou mesmo tirar antigas ideias do papel, seja por meio de cases, workshops ou contatos interessantes. São dias de muita inspiração que traz reflexões sobre os problemas e oportunidades na área de inovação social”
4. Fique atento a seu modelo de negócio
Durante a participação no Social Good Brasil, Fabíola e se sócio perceberam que a ideia original precisaria ser mudada: “queríamos produzir nossos próprios cursos mas após o programa percebemos que esse modelo inicial era inviável financeiramente, por isso a solução vem recebendo alterações desde então”, comenta Fabíola.
“A monetização e validação do modelo de negócio de uma empresa que tem impacto social são grandes desafios e empreender nessa área realmente não é fácil, mas com esses programas e iniciativas é possível achar uma luz (ou algumas) que ajude o empreendedor”, resume Mórris.