O futuro é hoje
Biotecnologia, interatividade, comunicação, sustentabilidade e editoração digital. Saiba porque esses segmentos farão cada vez mais parte do seu dia a dia, e como viraram negócios extremamente lucrativos para empresas catarinenses.
Seja dentro das organizações ou nas residências, a cada dia que passa a tecnologia está mais presente em nossas vidas, e em diversas formas. Quem achava o ritmo dessa revolução algo alucinante, não perde por esperar a próxima década. Imagine o cenário futuro: classes C e D em ascensão, crédito abundante, tecnologias físicas cada vez mais popularizadas e Internet em um rápido processo de expansão com as cidades digitais.
Tudo isso avalizado por um consumidor com perfil individualista e hedonista, que precisa comunicar-se e interar-se com o mundo a todo instante. A qualidade de vida e a sustentabilidade serão os dois extremos de um leque de oportunidades do mercado. Veja quem já está agindo – e não apenas pensando – nesse sentido no estado.
INTERATIVIDADE NA PONTA DOS DEDOS
A linha que separa a nossa realidade da virtual está cada vez mais tênue. Há quem diga que periféricos como mouse e o teclado físico vão sumir por causa de equipamentos como o iPad, feitos com base na tecnologia touch. Assim, as áreas de conhecimento que podem ser beneficiadas são as mais diversas.
No campo da educação, a tecnologia pode ser aplicada em salas de aula para fornecer mais dinâmica às lições, facilitando a didática. Várias empresas já adotam estas mídias para que seus colaboradores possam aumentar a absorção de informações através de jogos e métodos interativos.
O engenheiro mecânico Luiz Daniel Lima, assim como seus sócios, estava imerso em inovação no período em que era estagiário pela fundação CERTI, trabalhando no grupo de mídia interativa. Em um dos projetos, pôde ter contato com um ambiente totalmente rodeado desse tipo de tecnologia, o Sapiens Circus, que fez brotar uma série de ideias na mente dos amigos.
Em 2007, nasceu a Sandbox Mídias Interativas, com o foco de trabalhar na área de eventos, ações promocionais e oferencendo esse tipo de recurso de inúmeras formas para a área de educação e treinamento corporativo.
A empresa cria soluções que integram um determinado conteúdo em uma solução que pode ser operada com a ponta dos dedos. Um vídeo, texto ou imagem pode ser girado, redimensionado e redesenhado da forma que for mais conveniente ao usuário. Um arquiteto pode, por exemplo, apresentar um determinado projeto ao seu cliente e ambos redesenharem juntos a nova planta. Dependendo da empresa, o próprio modelo de negócios pode ser alterado, revertendo-se em uma redução de custos.
O restaurante Inamo, localizado em Londres, é um ambiente onde o cliente se senta e não precisa chamar o garçom. Ele pode realizar o pedido diretamente na mesa onde come, já que esta é totalmente interativa. À medida em que ele escolhe sua refeição, esta passa a ser projetada sobre o seu prato para que ele possa visualizar o produto acabado. Caso seja de seu agrado, o cliente confirma o pedido que automaticamente será enviado à cozinha através de uma pequena impressora. Enquanto o consumidor aguarda, pode utilizar o equipamento para jogar, entrar numa sala de bate-papo, acessar o Google para descobrir onde fica o shopping mais próximo, ou ainda trocar a toalha de mesa virtual para a cor ou estampa que mais lhe agradar.
Luiz Daniel fala que uma empresa do ramo farmacêutico pode fazer um treinamento de vendas realizando jogos do tipo quiz em grupo, ou uma competição para saber o grau de conhecimento de seus vendedores em relação aos produtos. A Sandbox oferece um portfólio de aplicações prontas que podem ser customizadas de acordo com o contratante. Petrobras, JExperts, Natura e Intelbras são alguns dos clientes que fazem parte da carteira da instituição, que espera crescer 50% em 2011.
O diretor revela que boa parte da clientela está localizada no Sudeste, principalmente em São Paulo, por esta ser uma região que opera com um grande volume de eventos. Ele ainda conta que o segredo do negócio reside em desenvolver ferramentas simples e de fácil operação, que sejam quase intuitivas.
A tendência é que com o tempo essa inovação faça cada vez mais parte do cotidiano, sendo encontrada não somente em eventos como também no varejo e dentro de residências – o que mostra ser um mercado extremamente promissor. O preço dessa tecnologia deve cair à medida em que o produto migrar da fase de introdução para a maturidade em seu ciclo de vida.
MERCADO VERDE
Sustentabilidade tem se tornado a tônica dos negócios, que não são mais apenas uma questão de vender ou comprar. O critério de escolha de fornecedores pesa cada vez mais em favor de organizações que agem de forma a colaborar com o futuro do planeta.
Grandes companhias começaram a perceber essa tendência e passaram a investir em políticas verdes condizentes com a exigência do mercado. Dentro delas, encontra-se relatórios obrigatórios de emissão de carbono, mobilidade inteligente, construções verdes, tecnologia limpa, racionamento de recursos, programas de eficiência energética e energias renováveis, além da classificação ecológica de parceiros.
Tudo isso fez surgir uma série de novos empreendimentos verdes, como empresas de materiais de construção, varejistas, condomínios e consultorias em sustentabilidade. O problema é identificar onde acaba a real preocupação com o meio ambiente e onde começa a propaganda enganosa.
Rodrigo Sabatini, da Novo Ciclo, uma consultoria especializada na gestão de resíduos baseada no conceito lixo zero, acredita que a palavra sustentabilidade se tornou uma marca – assim como o termo ecolologia, que se massificou na década de 90.
Há muito tempo uma pergunta assolava a mente de Rodrigo: como poderia resolver o problema do lixo? Ele começou a estudar a ideia de sua consultoria em 2002, porém notou que não havia viabilidade em seu negócio pela falta de uma consciência coletiva que apontasse nessa direção – como é hoje. Assim, aguardou e monitorou o mercado até 2007, quando percebeu uma maior maturidade.
Em 2008 a empresa foi fundada e um ano depois já havia se tornado uma sociedade anônima de capital fechado, em parceria com alguns investidores. Entre eles, está a Harpia Ventures, uma corporação de private equity e venture capture voltada à participação em empreendimentos dos segmentos imobiliário, novas mídias e sustentabilidade.
A Novo Ciclo tem dois pontos-chave. No primeiro, a consultoria está focada em reconceituar o que é lixo para as pessoas, o qual não se trata de apenas um monte de sujeira misturada. O que leva ao segundo ponto, que é quebrar o paradigma de que todo o processo de consumo termina numa etapa chamada descarte. Na verdade, para a empresa o que existe é um processo de encaminhamento. A ideia é que todo resíduo, seja numa linha de produção ou em uma residência, seja devidamente limpo, armazenado, transportado, estocado e transformado em matéria-prima de novos produtos. Dessa maneira, o empreendimento impede a formação do lixo e o aumento dos aterros sanitários.
Para isso, o trabalho da consultoria se baseia em quatro pilares: engenharia, educação, marketing e design. O primeiro diagnostica os processos de formação de resíduos e reprojeta o fluxo de forma a garantir que esse não mais agrida o meio ambiente. A etapa seguinte conscientiza as pessoas do que é e do que não é lixo, para que ajudem a mudar o sistema. O design vai reorganizar o mundo dos envolvidos nos processos através de móveis que facilitem a adesão ao projeto. Por último, os trabalhos de marketing internos e externos farão a divulgação das ações para que se crie uma confiança de todos os integrantes.
Na construção desse novo ambiente, a palavra lixeira deixa de fazer parte do cotidiano, onde aparecem os residuários (foto acima). Na opinião de Rodrigo, trata-se de um processo que vai muito além da ISO 14001, que estabelece diretrizes sobre gerenciamento ambiental dentro de empresas. “A gente não está falando de gestão do lixo, e sim de evitar a geração deste, o que na verdade eleva muito mais o nível de exigência”, comenta o diretor.
A Associação Catarinense de Supermercados (ACATES) é uma das instituições assessoradas pela Novo Ciclo em seus eventos. Cada um destes tem média de público que varia de 20 a 30 mil pessoas, onde 92% dos resíduos gerados – cerca de 37 toneladas – foram encaminhados de forma correta. O mesmo acontece com a consultoria de condomínios.
Nestes são instalados residuários onde os moradores limpam, separam e armazemam os materiais de forma classificada. A Novo Ciclo encaminha carros de coleta para transportarem todo o material até o local que Roberto chama de Central de Agregação de Valor. Cada material recebido já tem um destino específico de acordo com a logística montada para ele. Estes são repassados para negócios de transformação, onde tornam-se matéria-prima de um novo produto.
Os negócios verdes, que 20 anos atrás seriam vistos como uma utopia, têm se revelado verdadeiras minas de ouro do século XXI. A Novo Ciclo é exemplo desse modelo, tendo quadruplicado de tamanho a cada semestre. Com cerca de 30 colaboradores, faturou aproximadamente 1,5 milhão de reais em 2010.
A EDITORA DO FUTURO
Certamente você já escutou a frase da sabedoria popular que diz que todos antes de morrer devem ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Na época em que a oração foi criada, tinha uma razão de estar nessa ordem. Afinal, escrever um livro sempre foi uma guerra de várias batalhas. A primeira envolvia a inspiração criativa interna para elaborar um texto. A segunda era enviar os originais para várias editoras e aguardar longos meses de análise.
Caso alguém visse potencial no mesmo, começariam os processos de correção ortográfica, adequação da linguagem, diagramação, criação de artes e ilustrações, escolha de canais de distribuição, marketing e divulgação – além da impressão que, muitas vezes, dependendo do risco calculado pela editora, poderia ter a primeira tiragem paga pelo escritor. Cansou só de pensar?
Se essa história parece familiar, talvez você esteja tentando lembrar da indústria fonográfica, que era absoluta e soberana ao filtrar e selecionar os compositores e bandas que deveriam entrar, ou não, no mercado. Quando veio a Internet, do dia para a noite tudo mudou graças a programas como Napster e Kazaa.
Na mesma vertente, porém no mercado editorial surgiu a Bookess, uma mescla de biblioteca com editora digital. A ideia é que um escritor independente, ou mesmo uma editora, possa publicar seu trabalho no site da Bookess. Através de um cadastro, pode enviar seu arquivo para que possa ser baixado ou remetido em formato impresso para qualquer local do globo terrestre.
O dono da ideia é Marcos Passos, acadêmico da sétima fase de Ciências da Computação. Aos 21 anos, ele administra uma empresa que vem atraindo a atenção de escritores independentes, editoras e investidores de risco.
A Bookess era a peça que faltava no tabuleiro do mercado editorial num momento propício, que envolve a rápida ascensão do Kindle e outras formas de leitura digital, o aumento relâmpago das vendas de livros em sites como o Amazon (tanto em formato impresso como digital) e o surgimento de novas tecnologias como as gráficas digitais que podem imprimir um único livro por tiragem. Isso tudo aliado à imensa geração de conteúdo que a Internet trouxe. Só faltava alguém que fizesse o meio de campo.
Pode parecer simples ao primeiro olhar, mas o site gera uma série de benefícios aos seus escritores. Eles podem enviar o arquivo em formato PDF ou até mesmo em Word, além de escolherem os serviços que desejam aderir, como tradução para língua estrangeira, registro do ISBN, ilustração profissional da capa, editoração e revisão. Há também a opção de escolher o preço a ser comercializado após o cálculo do custo. Ou seja, dependendo da situação, o autor pode ficar sem desembolsar um único centavo até a venda do primeiro exemplar. A parte de logística e cobrança fica a cargo do site, que tem parcerias com distribuidoras e administra as vendas. Ao atingir o valor de 100 reais, a quantia é depositada na conta do autor. “Isso faz pensar quantos novos escritores podem entrar no mercado”, diz Marcos.
BIOTECNOLOGIA
O biólogo alemão Jörg Henri Saar carrega em suas costas uma longa carreira internacional dedicada à microbiologia. Durante seu doutorado em Paris, trabalhou no uso de bactérias para chegar a um catalisador de ações químicas específicas.
Passou então a lidar com micro-organismos já no âmbito industrial, quando conheceu alguns brasileiros que lhe falaram muito bem do país. Decidiu passar um ano no Brasil, porém esse plano já se transformou em mais de duas décadas, que incluem passagens pela UFMG, UFSC, FURB e Instituto Oswaldo Cruz. Assim, Jörg acumulou experiência na microbiologia ambiental, industrial, e engenharia genética.
Em 1996, ele resolveu abrir a UmWelt para atuar em quatro frentes: assessoria e consultoria ambiental; prestação de serviços de análises físico-químicas, microbiológicas, ecotoxicológicas de águas e resíduos líquidos e sólidos; biotecnologia ambiental aplicada a processos biológicos de controle de poluição; desenvolvimento de projetos de estações de tratamento (ETE).
O empresário soube captar recursos junto a órgãos como o CNPq, FINEP e Fapesc para realizar pesquisa e desenvolvimento, que culminaram em produtos e serviços voltados à área de biotecnologia ambiental. Um deles é o Biolux, usado no monitoramento da qualidade de águas e resíduos, em análises de toxicidade padronizadas para efluentes, produtos químicos e extratos provenientes de solos e resíduos sólidos. Outro produto é o Desco, desenvolvido para a remoção de cores por meio de micro-organismos, promovendo a degradação de corantes têxteis sem a necessidade de contínua aquisição de bactérias e formulações complexas.
O Brasil tem avançado nas áreas de biotecnologia farmacêutica e energética, e alimenta o mesmo ritmo de nações desenvolvidas. Porém, na área ambiental, os processos ainda têm um potencial pouco desenvolvido – apesar de andarem a passos largos – se pensarmos que se trata da nação com a maior biodiversidade do planeta.
A biotecnologia como um todo ainda está engatinhando no país. Existem setores relativamente na fase embrionária, como a nanotecnologia e a bioinformática, que na próxima década deve deixar de ser assunto distante da nossa realidade e se tornar algo cotidiano. A pergunta que fica é: qual o papel que o Brasil irá assumir no cenário global?
A TV COM CARA DE INTERNET
O lançamento da televisão digital no Brasil abriu um novo e promissor setor. Uma das pioneiras nesse segmento em Santa Catarina é a Brava iTV, de Joinville, especializada no desenvolvimento de aplicações interativas para TV.
No ano de 2008, o FINEP lançou um edital específico para subvencionar projetos na área de tecnologia da informação relacionados à televisão digital e a aplicações para dispositivos móveis. O projeto inscrito pela Brava era relacionado ao T-commerce. A financiadora recebeu mais de duas mil inscrições, e a Brava foi uma das contempladas. O aporte de 1,5 milhão de reais permitiu a empresa não só desenvolver o produto como consequentemente gerar conhecimento que poderia ser levado a outras soluções.
Com o novo formato, a TV – que antes era apenas uma mídia unilateral – passa a ser multilateral. Dessa maneira, o telespectador que antes era só um receptor passa a exercer papel de emissor de mensagens. Assim, interage não só com a programação como também com outros espectadores, seja durante um jogo de futebol tuitando sobre o gol do time do coração, ou respondendo uma pesquisa de opinião sobre as matérias do telejornal que acaba de ser veiculado. Outra possibilidade que se abre é a de comprar itens da decoração de um cenário de telenovela, processo que pode ser feito utilizando apenas o controle remoto.
Os intervalos das programações também passam a ter outro significado. No momento em que a pessoa vê um comercial de apartamentos à venda em um residencial recém-inaugurado, pode pausar a propaganda, explorar o imóvel, visualizar a planta baixa e até mesmo conversar com o corretor.
A gama de possibilidades oferecidas por esse novo formato de televisão ainda é inimaginável, porém já é possível prever um boom de novos tipos de publicidade, que devem ser cada vez mais customizadas para o cliente – e eficazes para os anunciantes.